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3.2. MONITORAMENTO: DESENHO EXPERIMENTAL | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Diversas metodologias podem ser empregadas para estimar
a redução da mortalidade, o grau de
utilização das passagens, os padrões
de movimentação das espécies e a
diversidade e/ou abundância da fauna nos hábitats
adjacentes à rodovia. As mais comuns são a
contagem de indivíduos atropelados,
observações visuais diretas, armadilhas de
captura, armadilhas de pegadas, armadilhas fotográficas,
armadilhas de pelos, telemetria por rádio ou
satélite e identificação
genética de indivíduos e espécies.
Dependendo do objetivo do monitoramento, umas ou mais
técnicas podem ser utilizadas de forma concomitante. Cabe
salientar que, sempre que a metodologia empregada prever captura,
coleta ou transporte de espécimes da fauna silvestre, deve
ser previamente requerida junto ao órgão
ambiental licenciador a devida Autorização.
Taxa
de atropelamentos
A frequência de atropelamentos é
estimada por meio de contagem de carcaças ao longo do
segmento em análise. O procedimento mais utilizado consiste
em percorrer o trecho em um veículo à velocidade
em torno de 50 km/h, com um ou dois observadores buscando visualmente
vestígios de animais atropelados. Quando localizado,
é feito a identificação da
espécie, registro fotográfico e
georreferenciamento. O georreferenciamento por GPS é
essencial, visto que apenas a indicação do marco
quilométrico mais próximo confere alto grau de
imprecisão aos dados e interfere diretamente no resultado
das análises (BISSONETTE & CRAMER 2008;
GUNSON et al. 2009).
Adicionalmente, é importante que outros dados
também sejam colhidos, sempre que possível, tais
como as características do ambiente no entorno (tipo e grau
de conservação da
vegetação), estação do ano,
data, horário, condições
climáticas, tipo de vestígio (ossada,
carcaça, carapaça), sexo dos
indivíduos, tamanho do animal, idade aproximada,
presença de filhotes e fêmea com
indícios de lactação (BERGHELLA
& CANDIDO 2011; IBAMA
2011), fatores que podem auxiliar na
explicação das causas dos incidentes e
refinamento de informações sobre os grupos
atingidos. A apresentação dos dados deve seguir
no mínimo as normas definidas pelo
órgão ambiental, podendo ser incluídas
informações adicionais consideradas relevantes
pela equipe técnica que realiza o levantamento. Por exemplo,
a Figura 93 apresenta uma ficha de registro de atropelamentos
decorrente do monitoramento de uma rodovia, com dados relevantes,
porém em formato de difícil
incorporação a banco de dados, pois
além de editada em processador de texto ao invés
de planilha eletrônica, não conta com
cabeçalhos compatíveis com o modelo de banco de
dados definido pelo órgão licenciador (Figura 94).
Após incorporados a um banco de dados
georreferenciado, os dados podem ser visualizados em mapa e analisados
em conjunto com diversos outros planos de
informação (vegetação,
topografia, uso do solo etc), conforme módulo piloto "Informações
geográficas" (Figura 95). Neste
módulo, podem ser visualizados os registros de
atropelamentos e de passagens de fauna em
instalação na BR 386 / trecho Tabaí -
Estrela/RS, após incluídos em uma planilha
eletrônica padronizada. Podem ser adicionados continuamente
novos dados de monitoramento da mesma rodovia ou de qualquer outra em
análise, sendo essencial que estes contenham todas as
informações previstas, sob formato
compatível, possibilitando uma análise integrada.
A correta estimativa da frequência de
atropelamentos deve considerar fatores metodológicos e
ecológicos. Em relação ao primeiro
item, a capacidade de detecção por diferentes
observadores é variável, recomendando-se que os
técnicos sejam os mesmos ao longo do período de
estudo. Da mesma forma, a velocidade deve ser constante ao longo de
todo o trecho e das diversas campanhas. Há que se considerar
que, preferencialmente e quando a extensão do trecho a ser
avaliado o permitir, percorrê-lo a pé apresenta
maior efetividade do que por modo motorizado (TEIXEIRA
2011). Ainda que o monitoramento seja feito de modo
motorizado, é importante que seja estimada a taxa de
detecção sob esta forma em
relação àquela obtida a pé,
por meio de sub-amostragens nos mesmos trechos. Em
relação aos fatores ecológicos a serem
considerados, a remoção de carcaças
por espécies carniceiras é extremamente
significativa. Avaliações experimentais indicam
que 72,6% das carcaças de aves e 97,2% das de cobras
desaparecem do leito da estrada em um período de 36 horas,
permanecendo em média 16,9 e 10,1 horas, respectivamente. A
maior parte da remoção é feita durante
o dia (65 e 80%, respectivamente), sendo os principais removedores de
carcaças os abutres, graxains, gambás e formigas.
A taxa de remoção é maior no centro da
estrada do que nos acostamentos: 90% contra 64% (ANTWORTH et al. 2005).
Assim, este fator deve sempre ser considerado ao determinar a
duração das campanhas, o método de
amostragem e a estimativa da taxa de atropelamentos.
BAGER & DA ROSA (2011) testaram diferentes frequências amostrais (semanal, bisemanal, mensal, bimestral e trimestral) visando identificar o esforço amostral para determinação da riqueza da fauna no entorno a partir dos dados de indivíduos atropelados. Com exceção da avifauna, em relação a qual nem mesmo amostragens semanais durante dois anos permitiram representar satisfatoriamente a diversidade conhecida, amostragens bissemanais permitiram representar adequadamente a comunidade de anfíbios, répteis e mamíferos. Considerando que as informações desejáveis no âmbito do licenciamento ambiental com este tipo de levantamento se relacionam à identificação de agregações de atropelamentos, e não à estimativa de riqueza, a qual é obtida com metodologias específicas na área de influência direta, os dados obtidos pelos autores indicam que mesmo levantamentos trimestrais são suficientes para identificação das espécies mais atingidas. Associado ao fato de que grande parte das carcaças são removidas em até 24 horas após o atropelamento (TEIXEIRA 2011), com o consequente incremento da margem de erro dos fatores de correção a serem empregados a medida que aumentam o intervalo entre os dias de amostragem, recomenda-se para a maioria das situações amostragens trimestrais com 10 dias de duração. Armadilhas fotográficas
e de vídeo
São tipicamente empregadas para verificar a presença de espécies de médio e grande porte que utilizam as passagens de fauna (DODD et al. 2007; GAGNON et al. 2005) e a diversidade de fauna e abundância relativa nos hábitats da área de influência da rodovia. São ativadas automaticamente pela obstrução em um feixe de luz, normalmente infravermelha, funcionando tanto de dia como à noite. Além de permitirem ótimos registros das espécies presentes na área, apresentam como vantagens em relação a outros métodos a possibilidade de permanecer por longo período de tempo sem a necessidade da presença de um observador e fornecerem informações temporais (FORD et al. 2009) e comportamentais (MATEUS et al. 2010) de movimentação da fauna As características técnicas dos equipamentos ainda não são adequadas para abrangerem distâncias significativas, sendo mais apropriada sua utilização em áreas relativamente confinadas (sítios de dessedentação, trilhas, bueiros, pontilhões e pontes), ainda que alguns equipamentos de vídeo infravermelho possam detectar e registrar imagens a até 1.000 m de distância (NEWHOUSE 2003). Seu custo, anteriormente alto, vem caindo ao longo do tempo, mas problemas relacionados ao furto dos equipamentos ainda são recorrentes.
Armadilhas
de captura
Este método tradicionalmente utilizado em estudos de pequenos mamíferos vem gradualmente caindo em desuso à medida que métodos menos invasivos vão sendo desenvolvidos (BECKMANN et al. 2010). Entretanto, pode fornecer boas informações referentes às densidades populacionais e à movimentação de indivíduos entre hábitats adjacentes à rodovia, quando utilizadas em combinação com técnicas de marcação (captura-recaptura). Exige um esforço de tempo relativamente grande, sendo novamente essencial a padronização da quantidade, disposição e tempo de armadilhas por unidade amostral. Armadilhas de queda são particularmente úteis para identificação de espécies de pequenos animais e sua abundância relativa em diferentes locais, requerendo, entretanto, manutenção diária para liberação dos indivíduos capturados. Combinadas com cercas direcionadoras, têm sua eficiência e área de abrangência aumentadas, sendo indicadas para anfíbios, algumas espécies de répteis e roedores (CALTRANS 2009).
Armadilhas
de pegadas
Instaladas sob a forma de caixas de areia nas entradas das passagens de fauna ou em segmentos com vários metros de extensão paralelamente à rodovia, permitem identificar a passagem de indivíduos nestes locais. Podem ser utilizadas com sucesso para estimar o número de animais que usam as passagens construídas ou que atravessam a rodovia antes e depois das obras de ampliação, fornecendo dados sobre a efetividade das estruturas e repulsão à estrada (BECKMANN et al. 2010). Sob a forma de faixas contínuas ao longo dos acostamentos, em substrato natural ou disposto artificialmente, permitem a identificação de áreas de travessia bem sucedida, assim como estimativa de abundância relativa, caso sejam regularmente vistoriadas e recompostas. Apresentam baixo custo e são adequadas para os mais diversos grupos de vertebrados terrestres. O próprio substrato natural, sem tratamento, especialmente às margens de cursos d’água e em trilhas, pode ser uma excelente fonte de informações para diagnosticar a presença de espécies, não somente pelas pegadas, mas também pela presença de vestígios como fezes e, inclusive, pelo odor característico de certos animais (capivaras (Hydrochaeris hydrochaeris), graxains (Pseudalopex gymnocercus e Cerdocyon thous) e zorrilhos (Conepatus chinga), por exemplo).
Observações
visuais diretas
É um dos métodos mais tradicionais e comuns utilizados, permitindo um diagnóstico de fauna relativamente rápido e em grandes extensões. Com baixo custo, propicia informações fundamentais sobre a presença de espécies e seu comportamento, inclusive no que se refere às passagens de fauna e à rodovia. Padronizando-se o esforço amostral por meio da determinação de transectos uniformes e tempo de observação, permite inferências quantitativas. Por meio da utilização de faroletes durante a noite, torna-se muito eficaz na detecção de médios e grandes mamíferos. Baseado na probabilidade de ocorrência de determinadas espécies, podem ser requeridas técnicas não usuais de observação para sua detecção, como por exemplo, a utilização de rapel em paredões rochosos, para identificação e monitoramento de populações de anfíbios adaptados a estes hábitats (BERGHELLA & CANDIDO 2011). Ferramentas
genéticas
Abordagens por meio de monitoramento de características genéticas também são propostas. BALKENHOL & WAITS (2009) e SIMMONS (2010) apresentam revisões dos estudos já realizados com técnicas de biologia molecular para avaliação dos impactos de rodovias, sugerindo abordagens em diversos níveis de organização, que vão de genes a paisagens. Informações sobre a variabilidade genética das populações, estimativas de fluxo gênico, número efetivo de migrantes e tamanho efetivo da população (KELLER & LARGIADÈR 2003; KELLER et al. 2005) podem, especialmente em combinação com métodos mais tradicionais de abordagem, esclarecer as consequências ecológicas dos efeitos de barreira e mortalidade gerados pelas rodovias. Tais abordagens exigem, entretanto, um longo período para identificação de eventuais variações (CORLATTI et al. 2009). As amostragens podem ser realizadas por meio de técnicas não invasivas, tais como coleta de fezes no solo (EPPS et al. 2005) ou pelos em armadilhas (CLEVENGER & SAWAYA 2010). Armadilhas de pelos
Construídas com fios de arame farpado, são úteis na avaliação de estruturas de passagem por parte de médios e grandes mamíferos, especialmente de espécies ameaçadas, quando outros métodos não se mostram eficientes. Requerem técnicos capacitados para correta identificação das espécies. Podem fornecer material para análises genéticas, com potencial inclusive para rastreamento de indivíduos, sendo então os custos substancialmente elevados. Esta potencialidade é particularmente interessante no caso do monitoramento da presença e movimentação de espécies ameaçadas (CALTRANS 2009). Telemetria
por rádio ou satélite
O monitoramento da movimentação de animais por meio da telemetria permite avaliar tanto suas áreas de vida quanto os locais em que cruzam as rodovias e seu comportamento perante estas estruturas. Geralmente é empregado em animais de maior porte e de espécies prioritárias para conservação. Entretanto, com a redução dos custos e a miniaturização dos equipamentos, é um método que tende a ser progressivamente mais empregado, inclusive para animais de pequeno porte, como tartarugas (BEAUDRY et al. 2010).
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CONECTE
- Guia de procedimentos para mitigação de efeitos
de rodovias sobre a fauna |
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Atualizado
em: Tuesday, August 21,
2012 15:24
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