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2.1. MEDIDAS MITIGADORAS: OPÇÕES EXISTENTES > INTERVENÇÕES ESTRUTURAIS |
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São aquelas que se inserem no projeto rodoviário por meio de execução de obras de engenharia específicas para uso da fauna ou adaptações dos padrões construtivos com objetivo de proporcionar condições de deslocamento ou proteção da fauna.
Passagens inferiores
É a estrutura
construída exclusivamente para a fauna mais utilizada nas
rodovias brasileiras, destinando-se a grande número de
espécies terrestres, semiaquáticas e inclusive
quirópteros (GAISLER
et al. 2009). Para que tenham
maior eficácia, é essencial que estejam
localizadas nos caminhos preferenciais da fauna, o que depende de um
bom diagnóstico prévio. As passagens inferiores
apresentam temperaturas significativamente menores do que o ambiente
externo, característica que funciona como atrativo para sua
utilização como pontos de
regulação de temperatura e consequentemente de
travessia (ASCENSÃO & MIRA 2007;
CAIN et al. 2003).
Apesar de ser uma possibilidade levantada frequentemente, o uso das
passagens de fauna como sítios preferenciais de
predação por carnívoros não
foi constatada em estudos que abordaram a questão (ARESCO 2005).
Passagens
inferiores grandes
São aquelas passagens
inferiores normalmente com 7 a 25 m de largura e entre 3 e 5 m de
altura. Recomenda-se uma proporção de abertura
maior do que 0,75, pois alturas muito reduzidas as tornariam percebidas
pela fauna como túneis, reduzindo sua
utilização por algumas espécies, como
os cervídeos, por exemplo (CALTRANS 2009). Entretanto, a
proporção de abertura não é
um critério a ser adotado como regra única,
devendo ser considerados fatores como a existência de
vãos iluminados junto ao canteiro central, qualidade do
hábitat e espécies-alvo na
definição das características da
estrutura (CLEVENGER & HUIJSER 2011).
Passagens
inferiores multiuso
Estruturas similares
às grandes passagens inferiores, porém destinadas
também ao uso humano e de animais domésticos.
Voltadas a alguns grandes mamíferos, são
também utilizadas pelos demais grupos, particularmente por
espécies generalistas. Correspondem, em uma de suas formas,
aos chamados passa-gado, bastante comuns no Brasil. Deve-se evitar o
uso por veículos motorizados. Quando largas o suficiente,
pode-se confinar o trânsito humano a um dos lados da
passagem, utilizando-se vegetação para segregar
os diferentes usos. Devem possuir no mínimo 5 m, e
preferencialmente, mais de 7 m de largura, e altura superior a 2,5 m
(recomenda-se mais de 3,5 m) (BECKMANN et al. 2010;
CLEVENGER & HUIJSER 2011).
Túneis
para anfíbios e répteis
A
localização em rotas migratórias para
os sítios de reprodução e o microclima
(umidade, luz e temperatura) são decisivos para sua
utilização (CLEVENGER
& HUIJSER 2011). Aqueles mais longos e estreitos
devem ser posicionados próximo à
superfície da estrada e contar com aberturas para entrada de
luz para serem efetivos. A superfície preferencialmente deve
ser recoberta por solo, retendo mais umidade do que as estruturas nuas
de concreto ou metal (LESBARRÈRES et al.
2004).
Ecodutos
ou pontes de ecossistemas
Tendo sido inicialmente testados
na Europa há mais de 4 décadas, constituem uma
alternativa de mitigação avaliada positivamente
quanto a sua capacidade de propiciar deslocamento para um amplo
espectro de animais (ARROYAVE et al. 2006).
Características importantes para sua efetividade
são a implantação de cobertura vegetal
e a instalação de barreiras visuais, por meio do
plantio de espécies arbustivas e arvoretas em suas laterais
ou da instalação de cercas de madeira, por
exemplo. Podem, também, receber canais ou ambientes
artificiais que induzam sua utilização por
anfíbios (ARROYAVE et al. 2006).
Passagens
superiores
Semelhantes aos ecodutos,
porém com menores dimensões (40 a 70 m de
largura). Para utilização por grandes
mamíferos, é sugerida uma largura
mínima entre 40 e 50 m (VAN WIEREN & WORM 2001).
Segundo dados de 2008 (BISSONETTE & CRAMER),
existiam apenas quatro passagens superiores nos Estados Unidos e
três no Canadá, quantidade bastante reduzida se
comparada as 559 e 118 passagens inferiores instaladas,
respectivamente, em ambos países. Já na Europa,
são extremamente utilizadas, existindo registro de 125
passagens superiores na França, 30 na Alemanha, 20 na
Suíça, quatro na Holanda, além
daquelas em inúmeros outros países daquele
continente e na Austrália (CORLATTI et al. 2009).
Passagens
superiores multiuso
Caracterizam-se pela destinação voltada tanto à fauna (especialmente de mamíferos, incluindo alguns de grande porte e a maioria dos generalistas) quanto ao uso humano e de animais domésticos (BECKMANN et al. 2010). Adaptações para que se obtenha um mínimo de segregação entre os tipos de usuário devem ser providas, tais como o plantio de vegetação arbustiva no segmento destinado preferencialmente à fauna silvestre (AHERN et al. 2009). Em geral, têm entre 8 e 25 m de largura.
Passagens
no estrato arbóreo
Geralmente constituídas de cabos de aço ou cordas que ligam as copas das árvores, se destinam à passagem de espécies semi-arborícolas e arborícolas em ambientes florestais (BECKMANN et al. 2010). Embora possam ser ancoradas em árvores, no caso de rodovias de pequena largura, preferencialmente devem ser fixas em estruturas permanentes especificamente construídas para esta finalidade. Cordas devem ter pelo menos 8 cm de diâmetro, sendo estendidas paralelamente, espaçadas por aproximadamente 20 a 30 cm e conectadas entre si por redes de nylon. Quando utilizadas plataformas de madeira, estas devem ter pelo menos 30 cm de largura (CLEVENGER & HUIJSER 2011).
Túneis
rodoviários
Com extensões
dependentes do obstáculo a ser transposto, os
túneis são habitualmente construídos
quando as feições topográficas
dificultam a adoção de outras alternativas, tal
como em regiões montanhosas. Ao separar fisicamente o
tráfego e a fauna, praticamente eliminam os incidentes e
preservam a conectividade existente, sendo ambientalmente preferenciais
às demais alternativas tecnológicas que
interferem diretamente no hábitat (CARR
et al. 2002). Entretanto, devido
ao seu alto custo, raramente são utilizados por motivos
exclusivamente relacionados à fauna (BECKMANN et al. 2010).
Já com justificativa ambiental em sentido amplo, existem
exemplos de seleção desta alternativa no contexto
do licenciamento ambiental, tal como o túnel sob o Morro
Alto, na BR 101/RS, com 1.900 m de extensão, reduzindo o
percurso do traçado anterior da rodovia em 10,95 km. O custo
total estimado do lote de 25 km em que o mesmo se inclui, entretanto,
subiu de 59 para 110 milhões de reais com a
adoção desta alternativa.
Viadutos
e elevadas
Geralmente não tem como finalidade principal oferecer conectividade à fauna, mas oferecem esta vantagem adicional. Em várzeas extensas e áreas úmidas constituem a melhor alternativa, pois interferem minimamente no ambiente. Possuem extensão variável e atendem à praticamente todos os grupos de animais (BECKMANN et al. 2010).
Pontes
e pontilhões
Preservam a integridade dos ambientes aquáticos e, com eventuais adaptações, tais como passagens secas, propiciam excelentes corredores para a fauna terrestre, cuja movimentação frequentemente está associada às drenagens e matas ciliares associadas.
Bueiros
modificados
Originalmente destinados
à função de drenagem, pequenas
adaptações podem torná-las eficientes
estruturas de passagem para vertebrados. Plataformas secas e rampas de
acesso são de fácil
implantação e reduzido custo, resultando em uma
estrutura funcional. Tais adaptações, entretanto,
não devem interferir em sua capacidade
hidrológica (BECKMANN et al. 2010).
A análise por ASCENSÃO & MIRA (2007)
da utilização de 34 bueiros em duas estradas de
Portugal demonstrou que estas estruturas são incorporadas
aos caminhos de muitas espécies, principalmente
carnívoros, independente do volume de tráfego.
Quando este é elevado, a perturbação
por ele provocada desencoraja os animais a tentarem cruzar a estrada,
fazendo com que busquem passagens alternativas, o que é
facilitado pela instalação de cercas
direcionadoras. Na Austrália, bueiros têm sido
usados por amplo espectro de espécies, particularmente
quando apresentam hábitats adjacentes preservados (TAYLOR
& GOLDINGAY 2003), situação
similar àquela observada para felídeos nos
Estados Unidos (CAIN et al. 2003)
e mamíferos em geral no Canadá (CLEVENGER et al. 2001A).
Preferencialmente, a esconsidade e o ângulo de inclinação vertical do bueiro devem corresponder aos do curso d’água por ele drenado. Entretanto, se a inclinação for muito acentuada, a superfície lisa dos bueiros pode acelerar demasiadamente a velocidade da água, impedindo a transposição por diversas espécies de peixes. Após estudo hidrológico detalhado, pode ser reduzido o ângulo de inclinação do bueiro, o que facilita a passagem de peixes, sendo necessário, simultaneamente, adotar medidas para reduzir o desnível gerado entre uma extremidade do bueiro (ou ambas) e o curso d’água. As extremidades dos bueiros devem apresentar desníveis tais que não comprometam a passagem da fauna, o que pode ser obtido com a deposição de pedra-rachão de forma a suavizar a transição do bueiro para o solo adjacente, ou com instalação de piscinas sequenciais de repouso, formadas com a instalação de barreiras de gabiões ou concreto, com desnível de até 30 cm uma da outra, até que seja superada a diferença de cotas entre a extremidade do bueiro e o nível normal do curso d’água (Figura 49). Bueiros de metal corrugados (ármicos) apresentam velocidade da água entre 2 e 3 vezes menor do que aqueles lisos nas mesmas condições de comprimento, inclinação e fluxo d’água, o que é desejável para a movimentação de peixes (BAKER & VOTAPKA 1990). Entretanto, para a fauna terrestre, é necessário avaliar a necessidade de revestimento da superfície inferior no caso de rugosidade excessiva, a qual pode ocasionar dificuldade de movimentação para espécies de pequeno porte. No caso de bueiros construídos com material de tonalidade escura, também deve ser avaliada a necessidade de pintura interna com cores mais claras, visando aumentar a visibilidade do ambiente.
Para a fauna em geral, é essencial que disponham de dispositivo para passagem seca na maioria das condições de fluxo hídrico elevado. Esta pode consistir em uma plataforma sustentada por mãos-francesas, degrau sólido ou plataforma sobre bueiro circular inserido em bueiro de maiores dimensões, visando à manutenção da vazão de projeto. É importante que o acesso do terreno contíguo até a plataforma seja viabilizado por rampas suaves. Mesmo que em situações de excepcional fluxo hídrico se verifique a inundação completa das estruturas, na maior parte do tempo será mantida sua funcionalidade como passagem de fauna.
Barreiras
anti-ruído
Podem ser construídas de madeira, concreto, vidro ou mesmo obtidas com o plantio de espécies vegetais adequadas. Estas podem incluir arbustos e arvoretas em densidade elevada, quando na mesma cota da rodovia, ou árvores com folhagem densa, se no topo de taludes de corte, não comprometendo a segurança viária. Além de visarem proteção acústica a ambientes urbanizados adjacentes, em relação à fauna se destinam principalmente à proteção de sítios de nidificação de aves e como guias para condução de fauna aos dispositivos de passagem. Sua efetividade foi pouco testada, sendo necessário avaliar seus reflexos no efeito de barreira, seja pela própria contenção física, seja por uma potencial redução no evitamento à estrada pela fauna (BANK et al. 2002).
Ampliação
do canteiro central
Proporcionar um canteiro central vegetado e com maiores dimensões do que as habituais proveria os animais de um local intermediário quando de sua travessia da rodovia, possibilitando que a efetuassem em um sentido por vez, hipoteticamente reduzindo a possibilidade de serem atropelados. Entretanto, os dados quantitativos existentes indicam que este tipo de tratamento do canteiro central pode resultar em maior número de colisões quando comparado a divisões com barreiras Jersey (Figura 56) ou pistas contínuas, especialmente para aves e felídeos (CAIN et al. 2003; CLEVENGER & KOCIOLEK 2006). Tal fato pode se dever à atração de um maior número de animais a um ambiente potencialmente perigoso (BECKMANN et al. 2010), especialmente se utilizadas árvores frutíferas. Barreiras Jersey ou F, cuja finalidade é reconduzir veículos desgovernados à pista, são amplamente utilizadas no mundo inteiro, tanto nas laterais das pistas quanto na separação de fluxos de tráfego. Como constituem barreiras físicas à movimentação da fauna, sua instalação com intervalos para permitir a passagem de animais, ou a disponibilização de aberturas ovaladas para que pequenos mamíferos e roedores não tenham seu caminho bloqueado ao cruzar a rodovia, tem sido cada vez mais empregada, ainda que a eficácia destas adaptações estruturais não tenha sido testada (CLEVENGER & KOCIOLEK 2006).
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CONECTE
- Guia de procedimentos para mitigação de efeitos
de rodovias sobre a fauna |
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Atualizado
em: Tuesday, August 21,
2012 15:29
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